Uma pergunta muito frequente que os pais fazem é: qual a melhor hora para se consultar um ortodontista? A resposta é simples: na maioria das vezes, aos seis anos de idade, fase na qual ocorre a erupção dos primeiros molares permanentes, tanto inferiores, como superiores. Mas se uma mordida cruzada estiver presente, posterior ou anterior (projeção da mandíbula em relação ao arco superior), o ortodontista deve ser procurado, mesmo que a criança tenha quatro ou cinco anos de idade.
A presença de uma mordida cruzada posterior, unilateral, ou de ambos os lados (bilateral), de um ou vários dentes, pode promover uma assimetria facial, ocasionando um crescimento do queixo da criança, para um lado ou para o outro, perdendo a simetria da linha sagital mediana (linha que divide a face em duas metades simétricas). O correto seria que os dentes do arco superior (maxila) cobrissem por fora os dentes do arco inferior, tanto na região posterior, como na região anterior, de uma forma justa, sem uma distância grande entre eles (relação esquelética de Classe I) (figura 01).
Além do diagnóstico da mordida cruzada, a relação esquelética que os ossos devem assumir também é importante. Para que os dentes se relacionem bem, no sentido transversal (largura), e no sentido anteroposterior, os ossos que suportam os dentes, maxila (osso da arcada superior) e mandíbula (osso da arcada inferior), devem estabelecer uma relação espacial correta. Se o osso da arcada superior estiver muito à frente do osso da arcada inferior, estaremos diante de uma relação esquelética chamada de Classe II (figura 02), ou por conta de um crescimento exagerado do osso superior, ou por falta de crescimento do osso inferior, ou ainda, por uma combinação dessas duas situações.
Diante de uma relação de Classe II, procedimentos ortopédicos que segurem o deslocamento do osso superior para frente (por exemplo, pelo uso de um aparelho extrabucal), ou que estimulem o crescimento e deslocamento do osso inferior para frente (aparelho ortopédico funcional) (figura 03 e 04), podem ser utilizados, de acordo com um diagnóstico e planejamento preciso, que deva ser feito individualmente para cada caso.
Se o relacionamento esquelético for corrigido numa fase precoce, chamada fase 1, na dentição mista (dentes decíduos e permanentes presentes), na qual os ossos estão em desenvolvimento, uma segunda fase de aparelho corretivo fixo (fase 2) normalmente é necessária, após a erupção de todos os dentes permanentes, para finalizar o caso com precisão. Esta fase corretiva será mais rápida e precisa, e objetivará a correção de aspectos funcionais e estéticos das arcadas dentárias, buscando o estabelecimento de uma correta engrenagem (oclusão) dos dentes, em equilíbrio com os músculos da mastigação, e a obtenção de uma face harmoniosa.
Uma outra vantagem de se instituir um tratamento ortodôntico precoce é o fato de se conseguir realizar procedimentos de expansão (alargamento) das arcadas superiores (disjuntor) e inferiores (aparelho removível expansor). A expansão das arcadas, dependendo da indicação correta para cada tratamento, pode ser feita com alinhadores transparentes. Ainda podemos utilizar mecanismos de manutenção de espaços, que podem diminuir a necessidade de extrações de dentes permanentes no tratamento ortodôntico corretivo, quando a criança tiver onze ou doze anos de idade. Em média, se uma criança passar por um tratamento ortodôntico precoce, a chance de ela necessitar de extrações de dentes permanentes cai para 20 a 30 %, ao passo que uma criança que venha ao consultório apenas aos 12 ou 13 anos de idade, provavelmente necessitará de extrações de dentes permanentes em 60 a 70 % dos casos. Isso ocorre porque aqueles procedimentos de expansão das arcadas são mais efetivos e estáveis quando o paciente está em crescimento, pois o padrão muscular e esquelético ainda está em maturação. Um adolescente já apresenta um padrão muscular definido e os mesmos procedimentos de expansão estariam sujeitos a instabilidades no pós-tratamento.
Um problema mais sério, que deve receber tratamento o mais cedo possível, é o chamado prognatismo mandibular, quando a mandíbula (queixo) apresenta uma tendência de crescimento exagerado e se instala uma mordida cruzada anterior. Desta maneira, os dentes inferiores anteriores ficam à frente dos anteriores superiores (mordida invertida). Esses casos são os de mais complexa resolução, necessitando muitas vezes de correção cirúrgica após o término do crescimento da criança. Mas, no nosso ponto de vista, é muito válido tratar precocemente esses pacientes com essa tendência de Classe III (figura 05), pois em um grande número de casos, conseguimos por meio de aparelhos ortodônticos e ortopédicos (máscara facial), a correção estética e dentária, de uma maneira satisfatória, e se a cirurgia for necessária no futuro, ela pode ser mais simples, envolvendo um segmento, apenas o arco superior, ou apenas o arco inferior, tornando o prognóstico mais favorável. Além desse aspecto, a criança também consegue se relacionar melhor socialmente, se ela estiver sendo tratada durante o seu crescimento, minimizando o problema estético, que muitas vezes este tipo de maloclusão proporciona.
Figura 5: máscara facial
Se a criança não recebe este tratamento e supervisão em seu desenvolvimento, obrigatoriamente vai haver a necessitar de cirurgia no futuro, com movimentos cirúrgicos maiores, em muitos casos em ambos os maxilares, além do aspecto emocional da criança ficar comprometido durante toda a sua fase de crescimento.
Se seu filho ou outra criança da sua família apresenta qualquer alteração na mordida ou nunca passou por uma avaliação ortodôntica, é recomendado que o faça o quanto antes.